Museu do Homem do Nordeste tem programação especial para a Copa


A Feambra traz este mês um bate-papo com a Silvana Meireles, diretora do Museu do Homem do Nordeste. O novo associado conta um pouco da sua história, trabalhos e ações para os turistas que virão ao País para a Copa do Mundo Fifa. Confira:

Feambra: Qual o principal objetivo do museu?

Silvana Meireles: O Museu do Homem do Nordeste – MUHNE é originário do Museu de Antropologia, concebido pelo sociólogo e antropólogo Gilberto Freyre e inaugurado em 1965, como uma instituição vinculada e complementar ao antigo Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais (IJNPS), atual Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). Sob a inspiração do antropólogo Franz Boas, Gilberto Freyre imaginou um museu 'de um novo tipo no qual se sente o que há de vivo e de ligado ao homem atual'. Seu objetivo era o de 'reunir, sob critério antropológico, documentação quanto possível significativa acerca do passado, da vida e da cultura de uma região tradicionalmente agrária do Brasil', inclusive para fins de estudos especiais do mesmo Instituto, como pode ser visto em seu artigo “Sugestões em torno do Museu de Antropologia no Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais”, de 1960. 

Posteriormente, foram incorporados ao Museu de Antropologia os acervos do Museu de Arte Popular de Pernambuco (MAP), criado pelo Governo do Estado de Pernambuco em 1955, e do Museu do Açúcar, pertencente ao antigo Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) e incorporado ao IJNPS em 1977. Da fusão desses três museus resulta, em 1979, a criação do Museu do Homem do Nordeste, com a missão de pesquisar, documentar, preservar, difundir e atualizar o patrimônio cultural, material e imaterial da região Nordeste do Brasil, atuando com base numa educação transformadora e como agência social, com vistas a contribuir para a construção da cidadania plena em nosso País.

Feambra: O museu possui alguma pesquisa em andamento?

Silvana Meireles: Sim. Intitula-se “Nordestes Emergentes” e visa identificar os fenômenos coletivos dessa região que sinalizam para o caminho da transformação social. A proposta de estudo da Fundaj é aproximar o Nordeste “real” do Nordeste “ficcional”, desconstruindo todo um imaginário nacional baseado em estereótipos de pobreza e ignorância. Coordenada pelos antropólogos Ciema Melo, da Fundaj, e Milton Guran, conta com pesquisadores da instituição de diversos campos do saber e com a colaboração da pesquisadora Ana Maria Mauad, da Universidade Federal Fluminense. Na primeira fase da pesquisa, concluída no final de 2013, os pesquisadores, acompanhados por diversos fotógrafos do País, prospectaram dez territórios no Nordeste, selecionados a partir da base comum de grande crescimento econômico na última década. O resultado desse trabalho foi apresentado em seminário, tendo a Fundação reunido mil imagens, que deverão ser objeto de estudos e de difusão, além de subsidiar a requalificação do Museu, ora em curso.

Feambra: Quais as principais atividades da área educativa?

Silvana Meireles: São desenvolvidas múltiplas ações educativas para públicos diversos, em especial alunos, professores e gestores culturais e educacionais, na perspectiva do museu como uma extensão da sala de aula e agente da cidadania.

Seguem algumas delas

1- Uma noite no Museu - programa destinado a alunos do Programa de Educação de Jovens e Adultos – EJA, das Secretarias de Educação do Estado e da Prefeitura,  os quais  não têm acesso aos espaços culturais nos horários convencionais destinados à visitação do público. O Museu abre duas vezes ao mês, no horário noturno, quando realiza visita mediada aos seus espaços expositivos, atendendo aos roteiros pré-estabelecidos pelo professor visitante, em sintonia com o educador do equipamento. Esse projeto conta com a formação do professor multiplicador.

2- Encontro Museu Educador - reúne gestores e professores das redes de ensino, agentes culturais, educadores sociais, educadores do Museu e convidados, constituindo-se num fórum permanente de debates sobre a Educação em Museus.

3- Projeto: Curta o Circuito da Fundação - promove o acesso aos bens culturais dos espaços expositivos da Fundação, compartilhado por educandos e educadores, visando contribuir para a construção de uma prática pedagógica crítica e inserida na vida social da comunidade escolar.

4- Mediação Compartilhada - o trabalho com mediadores surge para atender a demanda de grupos agendados, especialmente os inúmeros grupos escolares que frequentam os espaços do MUHNE conduzidos pelos seus professores. Para tal, a Fundação realiza curso de mediação cultural, onde são formados alunos universitários para desenvolver o trabalho de mediação compartilhada nos espaços expositivos do museu.

5- Campanha do objeto – “deixe aqui o seu Nordeste” - doação de um objeto que represente o nordeste do visitante. A ação contemplou a XII Semana Nacional de Museus (12 a 18/5), que teve por tema “Museus – as coleções criam conexões”. A ação, além de proporcionar a troca de experiências entre o museu e o visitante, permite ao MUHNE maior possibilidade de percepção do público e seus múltiplos olhares acerca do(s) Nordeste(s). Haverá uma intervenção na exposição de longa duração do MUHNE, com os objetos doados. 

Feambra: Conte um pouco a respeito do acervo do museu.

Silvana Meireles: Originado da fusão de três museus - Museu de Antropologia, Museu de Arte Popular e Museu do Açúcar –, o Museu do Homem do Nordeste possui um acervo constituído por cerca de 15 mil peças, cuja característica principal remete ao viés socioantropológico na formação das coleções que o compõem, como se pode ver na descrição a seguir:

1)      Peças de artes decorativas: mobiliário pernambucano do século XIX e estilo Beranger, colonial brasileiro, rústico;

2)      Cristais: franceses, opalinas, belgas e vidraria;

3)      Porcelanas: francesas, chinesa, brasileira;

4)      Pratarias: inglesa, portuguesa e brasileira;

5)      Ourivesaria: peças orientais, penas de ouro e prata;

6)      Joalheria: pulseiras, brincos de prata e ouro;

7)      Tapeçaria de Gobelin;

8)      Azulejaria francesa, inglesa e portuguesa, cerâmica hidráulica brasileira;

9)      Arte Sacra: Imaginária portuguesa e pernambucana;

10)  Arte popular de Pernambuco e outros estados, compreendendo os seguintes conjuntos: manifestações populares como Maracatu, Caboclinho, Bumba-meu-boi, Boi bumbá e brinquedos;

11)  Armaria;

12)  Artes Visuais;

13)  Etnografia indígena com a representação do Toré e a arte plumária;

14)  Objetos da etnografia das religiões afro-brasileiras como o Xangô, Candomblé, Catimbó, Jurema;

15)  Artefatos variados como maquetes de engenhos, equipamentos tecnológicos da indústria açucareira, do fumo, das comunicações, de iluminação, dos transportes, da habitação, da cozinha;

17)  Coleções de numismática e heráldica.

Feambra: Quais exposições estão abertas ao público?

Silvana Meireles: O acervo do MUHNE está presente na exposição de longa duração e em mostras temporárias realizadas no prédio principal e nos seus anexos (Sala Mauro Mota, galerias Massangana e Baobá, Memorial Joaquim Nabuco e Engenho Massangana, este último localizado na cidade do Cabo, também em Pernambuco).

A exposição de longa duração do MUHNE, no edifício sede, intitula-se “Nordeste: Territórios plurais, culturais e direitos coletivos”.  A partir de estímulos visuais e sonoros, e centrando no cotidiano e nas memórias individuais e coletivas, a exposição busca construir um mural da vida brasileira. Na expografia, passado e presente se encontram, apresentando suas contradições, referências, valores, e tradições e mostrando as diferentes visões e discursos que projetam a região Nordeste como espaço múltiplo.

No Engenho Massangana há uma outra exposição de longa duração, a “Casa Grande e Joaquim Nabuco”, que busca abordar a biografia de Joaquim Nabuco e a temática do açúcar, através de um projeto expográfico, composto de móveis e objetos do século XIX, objetivando remontar o cotidiano dos engenhos de açúcar.  

Com previsão de abertura em setembro deste ano, está programada a exposição de média duração intitulada “Feira de Mitos” na Sala Mauro Mota, onde se desenvolve um programa de exposições pensado para articular as reflexões expositivas voltadas para o campo literário (guardando a homenagem ao escritor Mauro Mota). Esse projeto tem por objetivo apresentar visualmente a participação de diferentes escritores que contribuíram para a construção do significado do Nordeste, através da literatura e pesquisas sobre folclore e cultura popular, numa série de cinco exposições.  E, na Galeria Massangana, há uma mostra de arte contemporânea, de curta duração, do artista Marcone Moreira, selecionado no edital 2013 do Projeto Residências Artísticas da Fundação Joaquim Nabuco.

Feambra: O museu possui Associação de Amigos ou outro tipo de trabalho voluntário? Em caso positivo, como funciona e quais são suas atividades? Se não, tem interesse em implementar?

Silvana Meireles: O MUHNE não possui associação de amigos ou qualquer tipo de trabalho voluntário.

Há estudos em curso sobre a viabilidade de criação de uma Associação de Amigos, juntamente com alguns frequentadores do Museu comprometidos com os seus princípios e conscientes do papel de um museu no desenvolvimento cultural de uma comunidade.

Quanto aos trabalhos voluntários, na qualidade de equipamento cultural público federal, há alguns impedimentos de ordem legal para sua utilização.

Feambra: Prepara alguma exposição ou atividade especial para o período da Copa e outros grandes eventos internacionais no Brasil?

Silvana Meireles: Para o edifício principal do Museu está planejada a exposição resultante da campanha “Deixe aqui o seu Nordeste” e o evento “Uma Noite especial no Museu”, uma versão da ação educativa já consagrada, ampliando a participação para convidados que farão intervenções relacionadas ao tema do futebol.


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